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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Dixie Browning

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Mais do que amor, n.º 687 - Agosto 2014

Título original: More to Love

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5417-8

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Volta

Capítulo Um

 

Tinha de admitir que estava a sofrer uma crise, embora o artigo que tinha acabado de ler não lhe desse razão. Porque tinha todos os sintomas clássicos: preocupava-se com o seu aspecto, com as relações que terminara, com o seu trabalho e com a importância que a família tinha para ela.

Mas, uma crise aos trinta e seis anos? Não podia ser. Annamarie ainda dependia dela e era por isso que lá estava. E quanto ao seu trabalho, voltaria a ele assim que os electricistas, estucadores e pintores acabassem o restauro do escritório onde trabalhava. Ser contabilista de uma pequena empresa talvez não fosse o melhor emprego do mundo, mas Molly era, acima de tudo, uma pessoa realista. Quanto ao seu aspecto, estava a tentar melhorá-lo; e respeito aos outros sintomas, por exemplo: os seus namoros, a sua única tentativa séria deixara-lhe um desagradável sabor amargo.

Molly tinha visto o mar pela primeira vez há quatro dias. Também tinha visto uma duna tão grande como uma das montanhas do Oeste da Virgínia, a sua terra. Naquela manhã, quando foi ao banco, tinha apanhado uma data de folhetos turísticos e pensava visitar tudo o que valesse a pena.

E, ao que parecia, havia muitas coisas interessantes. O milagre era que, pela primeira vez na sua vida, tinha tempo livre. A única coisa que tinha de fazer era pôr água e comida a dois papagaios, limpar as suas gaiolas e cuidar de um velho gato.

A viagem de ferry de Hatteras até Ocracoke fora apenas o início. O barco tinha uma zona onde as pessoas podiam subir para ver tudo melhor, mas ela não se atreveu a subir a estreita escada de ferro e ficou apoiada no parapeito do convés, na esperança de não enjoar. Demorara um bocado a habituar-se ao balançar suave da embarcação, mas gostou tanto do que viu que rapidamente esquecera os seus receios. Vários bandos de gaivotas seguiam o ferry, atraídas pelos pedaços de pão que três meninas lhes lançavam desde a popa. Cruzaram-se com outro ferry que ia na direcção oposta e as pessoas acenaram. Molly, sentindo-se audaz e aventureira, largou o parapeito e acenou também.

Lembrou-se de que naquele momento tinha pensado no destino. Primeiro, o acaso de que Holly Hills Home, a empresa onde trabalhava, tivesse de fechar para ser remodelada. Depois, Stu e Annamarie, que tinham alugado uma casa na ilha de Ocracoke, tinham-lhe telefonado para lhe dizer que iam viajar e precisavam de alguém que cuidasse de Pete, Repete e Shag. Molly não se lembrava da última vez que tirara umas férias a sério, pelo que aceitara imediatamente ir cuidar da casa e dos animais por uns dias. Desde a sua casa eram só cinco horas de viagem, com a viagem de ferribote incluída.

De maneira que Molly tinha ido a correr comprar alguma roupa confortável para a praia. Se tivesse encontrado t-shirts com frases do género «Vive o presente» ou «Go with the flow», provavelmente tê-las-ia comprado, sem se importar sequer com que as túnicas podiam ficar-lhe melhor.

Lembrou-se que no ferry tinha ido a cantar «Don’t worry, be happy». Haveria melhor lugar para adoptar essa atitude do que uma ilha?

Um grupo de adolescentes passara todo o caminho a rir. Iam bastante ligeiras de roupa, já que estava algum frio, mas se ela tivesse o corpo delas, provavelmente também iria assim, destapada. O ferribote ia cheio de pescadores, muitos deles jovens e atractivos. Alguns dormiam dentro dos seus veículos e os outros iam fora, a falar sobre os seus apetrechos de pesca.

A maior parte deles ia a olhar para as miúdas, excepto um deles que, caramba, parecia um jovem Stallone! E parecia que estava a olhar para ela!

Para ela?

Molly fingiu não perceber e concentrou-se numa ave preta que tinha pousado sobre a borda com as asas estendidas, como se estivesse prestes a retomar o seu voo.

– É um mergulhão – disse o duplo de Stallone, aproximando-se dela. – Está a secar as asas – de perto era só uns centímetros mais alto do que Molly e tinha alguma pança. Mas o seu sorriso era lindo.

Ela olhou para o céu sem nuvens e depois para ele.

– Como é que as molhou?

– Ao mergulhar para ir buscar o seu jantar.

Molly fingiu expressão de ter percebido tudo o que ele queria dizer, mas não pareceu ser muito convincente.

– É a primeira vez que vem à ilha?

– É.

– Eu venho todos os anos na Primavera e no Outono. Os meus colegas e eu participamos nos torneios de pesca que organizam ao longo da costa. Embora o tempo agora esteja muito instável. Deviam ter esperado mais umas semanas.

– Torneios de pesca?

O homem apontou para uma pequena bandeira pendurada na antena da sua carrinha.

– O.I.F.T.. Significa Ocracoke International ou Invitational, ou como o queira chamar, Fishing Tournament.

O homem descreveu-lhe como eram alguns daqueles torneios, assim como as suas habilidades em cada um deles. Molly desfrutou do voo das gaivotas, do sol e de ter chamado a atenção de um atractivo jovem. Será que alguém a tinha tocado com uma varinha de condão e tinha transformado a vulgar e roliça Molly num ser completamente diferente?

– Podes usar o que quiseres como isco. Há quem goste de usar minhocas, mas eu do que mais gosto é dos salmonetes.

Tudo bem, o homem era um bocadinho primitivo, mas ninguém nunca a poderia acusar de ser uma snob.

O homem tirou uma lata de cerveja da parte de trás da sua carrinha e ofereceu-a a Molly, que a recusou. Abriu-a e esvaziou metade do conteúdo goela abaixo.

Molly afastou uma madeixa de cabelo dos olhos. Devia ter-se lembrado de levar uns óculos de sol. Uns bem grandes. Assim poderia observar tudo sem ser vista. Comprara um batom novo, mudara de penteado e comprara alguma roupa, mas não estava habituada a gastar dinheiro consigo.

– Em que hotel vai ficar? – perguntou o homem com uma voz um pouco rouca, que combinava bem com os seus olhos sonolentos.

– Vou ficar em casa da minha irmã. Bem, não é dela, é alugada.

– Então, se calhar, ainda nos encontramos?

O que quereria dizer aquilo, um começo ou uma despedida?

Molly recuou mentalmente. Não tinha o hábito de seduzir desconhecidos. A antiga Molly nunca tivera oportunidade de fazê-lo e a nova precisava de trabalhar na sua autoconfiança antes de mais nada.

– Talvez. Se não nos voltarmos a ver desejo-lhe sorte nos torneios.

– No que à pesca se refere, eu sou o responsável pela minha própria sorte – esboçou um sorriso. – Este ano há sessenta equipas e uma enorme lista de espera. Se gosta de apostar, aposte no Jeffy Smith.

– Obrigada. Hei-de me lembrar.

Molly lembrou que, naquele momento, tinha pensado que os homens aplicavam o seu ego nas coisas mais estranhas. O seu ex-marido, por exemplo, gostava de assegurar-se que todos ficavam a saber que tinha estudado em Yale, embora fosse só por um semestre. Quanto a Jeffy Smith, era evidente que se orgulhava do seu talento para a pesca. Mas tinha sido muito simpático e parecia boa pessoa. E ela, que acreditava que qualquer pessoa podia chegar a ser o que desejasse, respondera-lhe com um sorriso.

Mas a seguir, Jeffy, o seu príncipe encantado, atirara a lata de cerveja borda fora, batera na barriga e lançara um sonoro arroto. Realmente, era um homem muito masculino, disse para si. O seu ex-marido era um homem mais a puxar para o efeminado. E entre os dois, preferia o pacóvio.

Ou melhor: não preferia nenhum. Mas era uma pena. Era a sua primeira aventura num barco e tinha acabado antes sequer de começar.

– Daqui a uns minutos chegamos a terra. Lembre-se que se precisar de aprender como se pega numa cana, chame o Jeffy – os seus olhos adquiriram um brilho significativo.

Os olhos eram pretos ta como o cabelo, e tinha uma barba de três dias. Molly não sabia se era porque estava na moda ou por desleixo. Com Kenny era precisamente o contrário. Quando estava em casa, nunca se preocupava em fazer a barba ou pentear-se, mas quando saía, vestia-se com roupa de marca e perfumava-se com perfumes caros.

Um dia em que o seu marido não parava de falar de designers, ela pregou-lhe uma partida. Ele tinha ficado a olhar para ela muito sério e, a seguir, tinha-lhe pedido cinquenta dólares emprestados.

Kenny Dewhurst, o seu ex-marido, não tinha qualquer sentido de humor e também não tinha mais recursos económicos do que a sua mulher.

A sua ex-mulher, corrigiu-se.

Molly aspirou o ar salgado do mar. Depois esboçou um sorriso em direcção ao atractivo homem que estava ao seu lado enquanto o ferry atracava. Aquilo era o presente, disse para si mesma: um céu azul sem nuvens enquanto ia para uma ilha carregada de promessas. E antes sequer de chegar, um homem simpático e bonito tinha metido conversa com ela quando, a apenas uns metros, três beldades seduziam os seus amigos.

Os motores já tinham sido desligados e o ferry meteu-se por um canal estreito.

– Acho que será melhor que comece a ir para o carro... voltaremos a ver-nos, não é?

– Provavelmente. Disseram-me que a ilha é pequena.

«Boa, Molly. Não demasiado entusiasta, mas também não muito fria», disse a si própria.

Depois, tinha entrado no carro e tinha olhado para o duplo de Stallone pelo retrovisor. Ele já se tinha reunido com os seus amigos, que após lhe darem umas palmadas nas costas e algum que outro murro carinhoso nas costelas, subiram para as suas carrinhas.

Molly sentiu-se bem desinibida. Sim, gostava daquela nova mulher na que tinha pensado transformar-se. Tinha... bom, talvez lhe faltasse estilo. Para já. Mas tinha uma atitude positiva e esse era o primeiro passo.

 

 

Aquilo tinha acontecido quatro dias antes. Naquela mesma tarde, Stu e Annamarie tinham apanhado outro ferry para o norte, após lhe terem dado instruções detalhadas de como tratar dos seus dois papagaios africanos e do gato. Na manhã seguinte, Molly tinha-se apresentado à vizinha, Sally Anne Haskins, que a tinha posto a par de onde estavam a loja principal e os correios. Também tinha tentado convencê-la a ficar com um cão recém-nascido.

– A pobre mãe está muito cansada, vou ter de levá-la ao veterinário. Desta vez teve sete cachorrinhos. Da última foram onze, coitada! Não gostavas de levar um? A tua irmã disse-me que já tem muitos animais, mas se calhar a ti interessa-te.

– Adorava, mas onde eu vivo não é permitido ter animais – explicou à mulher.

– O que achas se eu oferecer um cachorro como prémio a quem ganhar o torneio? A maior parte dos pescadores têm carrinhas e nelas podiam levar um cão.

Então Molly falou-lhe do seu encontro no ferry com aquele pescador e disse-lhe que não tinha nenhum cão na carrinha.

– Mesmo quando estava a começar a pensar que tinha alguma hipótese, atirou a lata de cerveja para o mar.

– Bem, se calhar queria impressionar-te. Tinha de aproveitar a viagem ao máximo, percebes, não percebes? Mas voltando ao campeonato, não sei que tempo vai estar. Dizem que se aproxima uma trovoada. Nos três últimos anos, o tempo esteve tão péssimo que a maior parte dos pescadores foram-se embora logo no primeiro dia. O vento era tão forte que levantava a areia e magoava a cara.

– Por que não se celebra quando o tempo estiver melhor?

– Conheces alguém que consiga adivinhar o tempo que vai estar? O campeonato celebra-se quando se supõe que há peixes – Sally Anne acabou de engomar a t-shirt de uma farda, desligou o ferro e deixou-o sobre o balcão da cozinha a arrefecer. – O problema é que se esperam muito, o tempo torna-se infernal e correm o risco de ficar presos na ilha. E se isso acontecer, não têm mais que fazer do que ir ao bar e contar mentiras sobre o enorme peixe que lhes fugiu um dia.

– Realmente, não soa nada bem.

Sally Anne esboçou um sorriso. Era uma mulher loira, de cara expressiva e com os maiores olhos azuis que Molly alguma vez já vira.

– Mas é divertido. Conhecer pessoas é uma parte importante dos torneios. Além disso, se ficarem aqui muito tempo e ficarem fartos de apanhar as algas que o vento traz para a praia, sempre há algum serão especial no pub de Delroy.

 

 

No dia seguinte, o céu estava carregado de nuvens. Um vento frio fazia esvoaçar as folhas que começavam a cair das árvores e fazia com que as pequenas barcas ancoradas no pontão balançassem que nem penas. Quando Molly saiu da loja com um saco de maçãs, começou a cair uma chuva miúda. Chovesse ou fizesse sol, estava disposta a caminhar todos os dias, como parte do seu novo estilo de vida. Dieta e exercício.

O trânsito tinha triplicado desde que chegara. Lembrou-se do seu amigo do ferribote e perguntou-se se ele já se teria ido embora. Estaria no bar a contar mentiras, ou estaria a pescar à chuva?

Os peixes não sabiam se chovia ou não, certo?

Lembrou-se do aviso de Sally Anne acerca de o homem ter tentado impressioná-la para não desaproveitar a viagem e soltou uma gargalhada. Era elogioso que Sally pensasse que a tinha de avisar. Parecia que a nova Molly estava a vir à luz do dia muito antes do que pensava, se tinha de ter cuidado com os homens.

– Olá, borracho.

Molly esteve prestes a deixar cair as maçãs quando a carrinha verde escura parou ao seu lado.

– Olá, Jeffy. Como vai a pesca?

– O torneio acabou, mas vou ficar mais uns dias para ver se o tempo melhora. Com este vento, a praia fica cheia de algas e peixes. É interessante vê-la. Queres boleia?

«Tem cuidado, talvez tenhas perdido uns quantos quilos, mas ainda não podes lançar foguetes».

– Bom, está bem, porque não? – disse, porém, a nova Molly.

Depois agarrou com força a mão dele e subiu à cabine. O homem era um pouco pacóvio, sim, e a sua gramática não era perfeita. Por não falar em que arrotava e deitava latas de cerveja para o mar. Mas tinha a certeza de que onde vivia, em Grover’s Hollow, muitos dos seus educadíssimos conhecidos faziam a mesma coisa quando ninguém os via. Além disso, Jeffy era muito simpático e também não se estava a comprometer com nada para além de dar um pequeno passeio de carrinha pela praia. Coisa que não podia fazer com o seu carro.

 

 

Rafe Webber não costumava meter-se em situações incómodas graças à sua excelente intuição e a um impecável sentido da oportunidade. Nas raras ocasiões em que o seu dom falhava, normalmente conseguia sair com danos mínimos. Naquela ocasião, porém, parecia que ia ser diferente. A sua intuição avisara-o de que havia certo perigo desde que Stu lhe tinha telefonado para lhe dizer que ia casar com a mulher mais bonita, inteligente e simpática do mundo. Rafe aconselhara-o a pensar muito bem antes de casar. Também lhe tinha pedido que esperasse ao menos até que ele fosse comprová-lo com os seus próprios olhos. Mas, infelizmente, Stu estava demasiado excitado para o ouvir.

Rafe estava fora do país na altura. Tinha ficado mais tempo do que imaginara e perdera o dia de Acção de Graças e o Natal. Ele não era um sentimental, óbvio que não! Mas tinha tentado sempre passar aqueles dias com a família para dar ao rapaz a sensação de estabilidade. Lera que as tradições ajudavam os adolescentes rebeldes a assentar, e isso era o que Stu tinha sido desde que Rafe começara a cuidar dele. Portanto, nos dez últimos anos, nunca deixara de preparar um peru especial para o seu meio-irmão.

Desta feita, também não tinha podido assistir ao casamento. Quando regressou aos Estados Unidos, já tinham casado. Mas, no dia seguinte, eram os anos do rapaz e não ia perdê-los, apesar de que ameaçava estar bastante vento, como tinha confirmado ao ler a previsão do tempo, visto que ia fazer uma viagem de avioneta. O que não tinha imaginado era que a ilha ia encontrar-se cheia de pescadores. Mesmo que fosse bom para a economia, era uma chatice quando era preciso alugar um carro e reservar um quarto.

Antes de sair da Florida, Rafe tinha organizado tudo para ficar com o resto da semana livre. Embora imaginasse que demoraria apenas dois dias a esclarecer tudo e confirmar o novo desastre no qual se tinha metido o seu meio-irmão. Por não mencionar como ia livrá-lo. Stu não tinha bom gosto para as mulheres. Desde que estava ao seu cuidado, sendo um adolescente sardento com demasiado dinheiro, hormonas descontroladas e muito pouco senso comum, Stu tinha sido um alvo perfeito para as mulheres sem escrúpulos.