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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Dixie Browning. Todos os direitos reservados.

POR ENTRE AS SOMBRAS, N.º 1104 - Dezembro 2012

Título original: Rocky and the Senator’s Daughter

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Este título foi publicado originalmente em português em 2006

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-1325-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

A sala era muito pequena e barulhenta. Entre os convidados havia jornalistas, políticos, as esposas destes e outras pessoas importantes. Falavam todos ao mesmo tempo e poucos ouviam, se é que algum deles o fazia. Pelo menos não havia uma orquestra para dar ambiente. Rocky ficou surpreendido com o barulho que se ouvia assim que saía do elevador. Aquilo não o devia ter incomodado, tendo em conta que até há pouco tempo tinha feito a cobertura de todos os eventos sociais mais agitados.

Queria sair dali.

Do outro lado da sala observava como o homenageado se aproximava de dois apresentadores televisivos e, sem pensar, entregava o copo a um conhecido jornalista desportivo.

Rocky esperou. Tinha ido ali para felicitar o seu antigo chefe mas ainda não tinha conseguido aproximar-se dele para lhe dar os parabéns.

– Ainda não te vais embora, pois não?

Dan Sturdivant, o seu antigo chefe, tinha formado muitos repórteres do mundo jornalístico, incluindo Rocky. Tinha quase setenta e cinco anos, sofria de tremores, do coração e de uma úlcera no estômago. Fora essa a razão pela qual Rocky decidira abdicar de um domingo tranquilo para ir assistir àquele evento em Shoreham, apesar de já não trabalhar com aquele homem há muitos anos.

Quando Dan o contratou, Rocky era um jovem idealista, recém-licenciado e Dan teve que lhe inculcar novos princípios antes de o pôr a trabalhar.

Rocky devia muito àquele homem.

– Ouvi dizer que abandonaste a profissão – disse-lhe o homem mais velho, a modo de cumprimento.

– As notícias correm depressa – disse Rocky. – Digamos que é um período de sabática.

– Poupa-me os eufemismos. És demasiado jovem para abandonar a carreira.

– Estou cansado, Dan.

– Eu também, mas isso não é razão. Tens que arranjar uma desculpa melhor.

Ele já tinha uma. E sim, estar cansado era uma razão válida para um homem que tinha o coração despedaçado há oito anos. Dan conhecia a história, mas eles nunca tinham falado sobre ela.

– Fica. Isto já não deve durar muito mais. Céus, o que fiz eu para merecer isto? – abanou a cabeça e arqueou as sobrancelhas.

– Está a dar um jogo dos Braves. Se for agora, ainda chego a tempo para ver a terceira parte.

– Os Mets vão ganhar. Queres ir vê-los a dar-vos uma sova?

– Nem penses.

– Se algum dia quiseres falar, sabes onde vivo.

Rocky assentiu. Dan percebeu. Mensagem enviada e recebida.

Rocky não estava preparado para falar sobre aquilo que pensava fazer com a sua vida. Sabia que tinha que fazer alguma coisa para sobreviver, mas ainda não tinha que decidir o quê. Talvez daí a algumas semanas, ou alguns meses. Talvez quando chegasse ao ponto de passar fome, aí sentiria a motivação para escrever uma coluna semanal. Ele já tinha sido abordado por duas agências com essa proposta.

Mas primeiro tinha que ultrapassar a questão de Julie. O seu casamento tinha acabado no verão de noventa e quatro quando um condutor alcoolizado chocou contra o carro da sua mulher, quando ela voltava da biblioteca. Ela partiu a coluna e teve graves danos cerebrais. Julie morrera há seis meses e, no dia do funeral, Rocky não chorou. Ele já não tinha lágrimas após sete anos a vê-la naquele estado, como um vegetal.

Durante sete anos, tinha-lhe levado um ramo das suas flores favoritas. Flores que ela não podia ver, nem cheirar, mas que ele sabia que, no fundo, ela sabia que estavam ali. E que ele a amava... e que sempre a amaria, acontecesse o que acontecesse. Por fim, no princípio de fevereiro, numa fria manhã de chuva, ela foi enterrada junto às campas dos pais dele. Depois, foi sozinho para casa e embebedou-se.

Uma semana depois, apresentou a sua carta de demissão, esvaziou três garrafas de uísque no lava-loiça e abasteceu-se de refrescos. Passaria o verão a pensar, a ver jogos de basebol e a ler Guerra e Paz. Prometeu a si próprio que, quando acabasse a temporada de basebol, começaria a pensar no que fazer com a sua vida.

Como consequência da festa da entrada de Dan na reforma, Rocky voltara a aparecer em cena. Já estava na hora, porque ele estava a perder a habilidade de socializar, apesar de nunca ter sido muito boa.

– Mac, que bom ver-te – disse a um rapaz que uma vez fez a cobertura de uma notícia na Casa Branca.

– Rock... Onde é que tens andado? Há muito tempo que não te via.

– Rocky, que bom ver-te – disse mais alguém.

Ele foi abrindo caminho até à porta e parou junto de um grupo de mulheres que falavam de alguém que todas conheciam.

– Viste-a na última conferência de imprensa? Juro-te, se eu tivesse aquele aspeto, teria cortado os...

Uma ruiva que usava um fato justo disse:

– Querida, eu vi a gaveta da roupa interior dela e, digo-te, os boatos são verdadeiros.

A coscuvilhice estava na ordem do dia. Rocky olhou para o relógio. Tinha pensado permanecer ali, no máximo vinte minutos e isso fora o que demorara só para atravessar a sala. Havendo tantos escândalos em Washington, não era difícil fabricar uma história para arruinar a vida de algumas pessoas.

Por sorte, ele não escolhera esse caminho. Ele não tinha coragem para fazer esse tipo de coisas. Quando se deu conta que a sua objetividade como jornalista deixava muito a desejar, pediu para lhe mudarem o posto. Isso significou passar menos horas com Julie, mas o tempo que passava com ela era mais para o seu próprio bem do que para o dela. O médico disse-lhe desde o primeiro momento que, apesar de parecer que Julie lhe respondia, ela tinha certas partes do cérebro gravemente afetadas e, mais tarde ou mais cedo, falhariam as suas funções vitais.

Apesar dos prognósticos, ele não perdeu a esperança. Lia-lhe histórias, levava-lhe flores e contava-lhe coisas das pessoas que ambos conheciam. Com o passar dos anos, acabou por se resignar, e nem sabia quando perdera a esperança.

Alguém foi contra ele e deixou-lhe cair a bebida na manga.

– Desculpe.

– Não faz mal – tinha que sair dali. Estava muito próximo da porta. – Desculpe... com licença...

A mulher que lhe impedia a passagem virou-se.

– Olá. Não te vais já embora, pois não?

– Eu tenho outro compromisso – disse ele, e pensou «não obrigado, não estou assim tão necessitado».

Saíram três mulheres da casa de banho e ficaram a falar junto à saída. Uma escultural morena dizia:

– Como vos dizia, dois editores rejeitaram-no. Disseram-nos que os déssemos aos jornais sensacionalistas mas, no dia seguinte, o meu chefe mostrou-o a outro editor e esse ofereceu-nos uma boa soma e o meu agente disse...

– Esquece o que o teu agente disse, Binky. Procura um advogado. É disso que se precisa quando nos acusam de difamação.

– Isso não vai acontecer. Quem é que vai querer admitir uma coisa destas só para me acusar de difamação? Além disso, o meu agente diz que eu estou a salvo porque está escrito na primeira pessoa e por eu não mencionar nenhum nome.

– Vá, Binky, não estás a insinuar que foste tu essa pessoa?

As três mulheres desataram a rir.

– Estás a brincar?

Rocky passou por elas e esperou pelo elevador. A mulher a quem chamavam Binky continuava a falar. Se não estava enganado, ela escrevia uma coluna num dos jornais semanais. Já ouvira chamarem-na a Grand Tetons.

– Oiçam, estou a falar de coisas sérias. Coisas tão quentes que vocês nem podem imaginar! O pobre Sully disse que a mulher era muito excitante mas ele gostava de outro tipo de mulheres. Já sabem ao que me refiro.

– Eu conhecia-a numa festa de caridade. Eu se fosse a ti, tinha cuidado. Já sabes o que dizem das caladinhas.

Rocky preferia mil vezes uma caladinha do que uma daquelas piranhas. Tinha pena da mulher do homem de quem falavam. Era evidente que o marido não tinha sido correto com ela e agora, estava prestes a acontecer, toda a gente se iria rir dela.

– Mas quem é que se preocupa com ela? – Binky desapertou o casaco, deixando à mostra o top de cor bege que usava. – Já vos disse que na produção me estão a apressar? Há três editores a trabalhar no artigo e telefonaram-me para todos os programas de entrevistas. Ou seja, um título como As Outras Mulheres do Marido da Filha do Senador, vai encabeçar todas as listas, porque o meu editor diz...

O elevador parou e as portas abriram-se. Rocky ficou pensativo até as portas se fecharem outra vez. Ele conhecera a filha de um senador que depois se casou com um dos membros do congresso. Estariam a falar daquela mulher? Até para os acontecimentos de Washington, aquilo fora polémico. A imprensa tinha-se regalado.

«Não a conhecia propriamente», pensou Rocky quando chegou outro elevador e saiu um casal. Franziu o sobrolho e entrou no elevador. Ele só falara com ela uma vez, muitos anos antes de se conhecerem as aventuras do seu pai. Anos antes de se casar com Sullivan, o homem de confiança do senador. Um homem que tinha sido protagonista de outro escândalo pouco depois do senador ter sido expulso da cidade.

Rocky estava a cobrir a conferência do Médio Oriente quando se celebrou o casamento. Ele lembrava-se de ter visto algumas notícias. Os Sullivan e os Jones. O casamento tinha causado um grande reboliço. Até o vice-presidente tinha estado presente no casamento. Ela era uma noiva linda. Não no sentido habitual da palavra, mas por ter uma posse majestosa inata. Rocky lembrava-se do sorriso que ela esboçara quando se conheceram, anos antes.

Fora alguns anos depois de que se desse o primeiro escândalo. Antes, havia alguns boatos, mas nada que se conseguisse provar. Por fim, o Departamento de Justiça formou uma comitiva especial para investigar o caso e Rocky seguiu todos os pecados do senador Abernathy Jones.

Os escândalos sucessivos implicavam mais de meia dúzia de pessoas mas, se ele se lembrava bem, o membro do congresso com quem a filha do senador se casara seis meses antes, não estava entre eles. A vez de Sullivan chegou alguns anos depois, como consequência de uma questão de drogas. Mas, nessa altura, o senador já tinha passado à história.

Rocky não queria acompanhar aquele escândalo, mas como todos os meios de comunicação estavam a fazer a cobertura da notícia, era algo inevitável. Os escândalos rebuscados aumentavam as vendas e os índices de audiência. Estava mais do que demonstrado.

E assim, Rocky seguiu a desventura do jovem congressista e observou como a imprensa lhe acossava a mulher, os empregados e até o barbeiro. Lembrou-se que uma vez vira a mulher de Sullivan encurralada por um grupo de jornalistas entre a sua casa em Arlington e o carro conduzido pela sua governanta.

Isso acontecera há mais de um ano. Submerso na sua própria crise, Rocky não tinha voltado a pensar nela até àquele momento.

Quando a viu pela primeira vez, chamava-se Sarah Mariah Jones. Encontraram-se numa festa de beneficência onde se esperavam algumas pessoas famosas de Hollywood. Naquela altura, ela não devia ter mais de quinze anos. Ele era um jornalista e ela, uma adolescente que tentava aparentar estar a divertir-se. Rocky lembrava-se de ter lido alguma coisa sobre a mãe dela ter falecido e também sobre o facto do senador utilizar a filha para as sessões fotográficas para depois a relegar para segundo plano. Havia boatos que, uns anos antes, o senador se tinha esquecido que a filha estava num encontro no colégio e que tinham passado seis horas antes de mandar alguém ir buscá-la.

Rocky achava que a rapariga tinha consciência do papel que desempenhava na campanha eleitoral do seu pai. Ele usava-a tal como fazia com toda a gente, e depois punha-a de lado até voltar a precisar dela. O senador quis que parecessem uma família unida desde que o seu opositor, um homem casado e com três filhos, foi apanhado numa situação comprometedora com uma das suas assistentes.

Só tinham sido convidados para a festa os jornalistas que partilhavam os ideais do senador. Rocky, que no princípio da sua carreira profissional se considerava uma pessoa ponderada no plano político, ia sair da festa quando viu a rapariga.

Sarah Mariah usava um vestido caro e observava o seu pai quando este se aproximou de um dos doadores e lhe apertou a mão. Havia qualquer coisa no olhar da jovem que fez com que Rocky parasse. Os olhos dela faziam-lhe lembrar os olhos das crianças que têm um aspeto demasiado envelhecido para a sua idade.

Rocky pegou numa chávena de chá e numa sanduíche e aproximou-se dela.

– Olá. Eu sou o Rocky e sou polícia da juventude. Os teus pais deram-te autorização para estares aqui? – o que lhe disse era uma palermice mas, ao fim e ao cabo, ela era uma miúda.

– Como está, senhor Rocky? Eu sou a Anónima Jones e se me descobrem, exilam-me, mas isso se o rei estiver num dia bom, porque se estiver num dia mau, manda decapitar-me.

– Sim, já supunha isso – olharam ambos para o senador. – Trouxe-te as últimas coisas que havia, para o caso de quereres. Uma sanduíche de queijo creme e espargos. Tem melhor aspeto do que aquelas coisas pequenas e castanhas.

– As perninhas de toupeira assadas?

– Essas já acabaram. Ainda havia uns filetes de peixe, mas já sabes o que é que dizem do peixe...

– Não, o que é que dizem?

Ele encolheu os ombros.

– Ganhaste.

Ela esboçou um sorriso. Falaram durante alguns minutos e, quando ia agarrar na chávena de chá, bateu, sem querer, no prato e, para tentar evitar que a chávena caísse, deixou cair a sanduíche nos sapatos de Rocky.

A rapariga estava tão atrapalhada que ele tentou levar a situação para a brincadeira dizendo que os espargos eram um excelente repelente de insetos.

– É o cheiro. Nunca cheiraste os espargos? É um pivete.

Ela parecia estar tão agradecida que ele receou que fizesse alguma coisa como beijar-lhe a mão. Comentou que tinha um compromisso e partiu antes que caíssem os dois em ridículo.

Rocky continuava a achar que a jovem tinha um olhar vulnerável. Demasiado vulnerável, tendo em conta o círculo em que se movia. Achava que, com o pai sem-vergonha que ela tinha, a jovem não acabaria o ano sem apoio psicológico.

– Sarah Mariah Jones Sullivan – disse em voz baixa. – A filha do senador J. Abernathy Jones.

Viúva do congressista Stanley Sullivan, o protegido e títere do senador. Um mulherengo que tinha conseguido escapar às repercussões da enorme lista de escândalos que tinham acabado com a carreira política do seu sogro.

Rocky tinha voltado para os Estados Unidos depois de passar um período no Kosovo, altura em que Sullivan se tornara o centro das atenções. Rocky não se quis juntar aos demais jornalistas e preferiu acompanhar os acontecimentos na privacidade do seu apartamento. Sarah Mariah, permanecia dia após dia junto ao seu marido e aparentava estar tranquila, apesar de estar pálida e inexpressiva. Rocky nem conseguia imaginar o que ela estaria a sofrer, especialmente depois do que tinha sofrido quando os escândalos sobre o seu pai saíram para a luz do dia.

A jovem mulher nunca perdeu a dignidade. Rocky reparava como ela, dia após dia, quando os jornalistas a perseguiam, os olhava de cabeça erguida.

– Senhora Sullivan, sabia então que...?

– Sem comentários.

– Senhora Sullivan, é verdade que pediu o divórcio?

– Sem comentários.

– Sarah, é verdade que esteve numa das festas que o seu marido deu em Georgetown? É verdade que houve um diretor de Hollywood que...?

– Se me dão licença...

Rocky descobriu mais tarde que a governanta dela costumava resgatá-la de situações como aquelas.

Ao fim de algum tempo, aqueles dois casos ocuparam os pensamentos de Rocky: desvio de fundos, tráfico de influências, venda de informações a países terroristas e contas bancárias em paraísos fiscais por parte do senador; e os escândalos sexuais e relacionados com droga por parte do congressista Sullivan. O homem tinha sido um idiota ao prosseguir com as suas atividades enquanto decorriam as investigações dos escândalos do seu sogro.

Mas, enquanto isso tudo sucedia, Rocky continuava submerso nos seus próprios problemas. Quando o primeiro escândalo saiu à luz do dia, foi quando os rins da Julie começaram a falhar. Trataram-na com hemodiálise durante algum tempo mas, devido à situação em que se encontrava, não era uma candidata a um transplante. Quando finalizou um trabalho no estrangeiro, Rocky apresentou a sua demissão. Precisava de passar todo o tempo possível com a mulher que tinha amado.

As recordações eram confusas, o fim do seu casamento, o caso Jones-Sullivan, e o fim da sua carreira profissional. Lembrava-se de, em tempos, se ter questionado sobre a razão que tinha levado uma rapariga inteligente, tímida e com um divertido sentido de humor, a casar-se com um homem como Sullivan.

Aquele homem devia ter alguma coisa especial para Sarah Mariah se ter casado com ele. Tal como fizera com o pai dela. Tinha ficado junto a ele até todos os seus segredos terem sido desvendados.

Os escândalos do congressista tornaram-se algo tão habitual que, quando ficou claro que não representavam um perigo para a segurança nacional, os meios de comunicação deixaram de os publicar. O tema voltou a surgir quando Sullivan bateu com o seu carro contra o pilar de uma ponte e morreu. Depois disso, Sarah Mariah tinha desaparecido.

Isso deve ter acontecido mais ou menos quando Rocky se demitiu. Tinha estado presente na fase final da vida de Julie. Tinha chorado. Tinha lido até não conseguir mais. Tinha visto todos os jogos da liga de basebol. Quando se apercebeu que estava a beber demais, parou de um dia para o outro. Não tinha sido um ano bom.

 

 

Alguns dias depois da festa de comemoração da reforma de Dan Sturdivant, Rocky estava à frente da televisão quando viu entrevistarem a autora do livro As Outras Mulheres do Marido da Filha do Senador.

Aquilo chamou-lhe a atenção. Não importava onde estivesse, a viúva do congressista voltaria a ser o centro das atenções quando o livro saísse. Saberia ela da existência daquele livro? Veria ela televisão?

Ele não sabia nada dela. Até podia estar deitada na areia de uma ilha tropical. Merecia-o.

Mas também merecia saber aquilo que se avizinhava, caso preferisse esconder-se. Rocky tinha a certeza que conseguiria encontrá-la. Trabalhara muitos anos como jornalista e tinha muitas fontes de informação. Interrogava-se por que razão tinha tanto interesse numa mulher que só tinha visto uma vez, há mais de vinte anos atrás. Talvez porque sentia um grande vazio na sua vida.

O mínimo que podia fazer era preveni-la que os abutres em breve estariam de volta dela.