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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2010 Patricia Wright. Todos os direitos reservados.

DE VOLTA AO TEU AMOR, N.º 1312 - Fevereiro 2012

Título original: The Lionhearted Cowboy Returns

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2012

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

I.S.B.N.: 978-84-9010-668-6

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

Capítulo 1

Custara-lhe imenso, mas conseguira. Finalmente, estava em casa.

Jeff Gentry saiu para o alpendre da casa do capataz, no rancho Rocking R. O sol acabava de nascer, mas pôde sentir o calor do verão do Texas apesar da hora. Respirou fundo e desfrutou do cheiro dos cavalos e do gado.

Aquele era o lugar onde tinha crescido, o lugar onde fizera parte de uma família, o primeiro lugar onde se sentira a salvo, mas não tinha a certeza de que pudesse voltar a significar o mesmo para ele.

Durante os dez anos anteriores, o Exército dos Estados Unidos fora o único lar de Jeff. Ao longo dos dez longos anos de serviço militar, tinha viajado por meio mundo e vira tanta morte e destruição que agora tinha pesadelos que precisava de esquecer.

Um desses pesadelos, embora fosse real, mudara-lhe a vida para sempre. Ainda lhe doía quando tocava na coxa, mas como lhe dissera o médico que o tratara, fora muito mais afortunado do que outros.

Infelizmente, Jeff não se sentia afortunado. A sua última missão no Exército tinha representado o fim do seu futuro e da vida que conhecia. Agora, teria de descobrir se era capaz de ficar em San Angelo e voltar a ser um membro da família dos Randell.

– Bom dia, filho.

Jeff virou-se e viu que o seu pai se aproximava do alpendre. Dedicou-lhe um sorriso e disse:

– Olá, papá.

Com cinquenta e cinco anos de idade, Wyatt Gentry Randell continuava a ser formidável. Caminhava direito e tinha a força física de um homem que tinha dedicado muitos anos a criar gado para rodeos. Além disso, era de riso fácil e muito carinhoso com a esposa e os filhos.

Alguns anos antes, casara-se com Maura Wells e tornara-se o padrasto dos dois filhos dela, Jeff e Kelly. O dia em que Wyatt os adotara fora o mais feliz da vida de Jeff. O aparecimento de Wyatt tinha apagado as lembranças dolorosas da sua mãe e de todos eles. E, pouco depois, o casal dera-lhe mais dois irmãos, Andrew e Rachel.

Definitivamente, Jeff tinha motivos de sobra para adorar Wyatt. Mas estranhou vê-lo no alpendre. Afinal, tinha pedido à sua família que lhe desse um pouco de tempo e espaço, e eles tinham-lho concedido.

– O que te traz por aqui? – perguntou. – Precisas que te ajude em alguma coisa?

Wyatt entregou-lhe uma chávena cheia de café fumegante.

– Não, só queria passar um bocado com o meu filho. Alegra-me que estejas em casa.

Jeff gostava de estar com os seus pais, de modo que a sua resposta não foi exatamente uma mentira.

– E eu fico feliz por estar de volta.

Apoiou-se no corrimão do alpendre, provou o café e olhou para o rancho. As construções estavam em bom estado e tinham-nas pintado recentemente de branco. Durante mais de duas décadas, os irmãos Wyatt e Dylan, que eram gémeos, tinham-se dedicado de corpo e alma ao rancho Rocking R., mas, para além de criar e vender cavalos, Dylan também tinha uma escola de rodeo, que, tal como o próprio rancho, fazia parte da Randell Corporation.

Todos os membros da família eram acionistas da empresa, fundada doze anos antes por Wyatt, Dylan e os seus quatro irmãos, Chance, Cade, Travis e Jarred, aos quais se tinham juntado dois primos, Luke e Brady. Entre as propriedades que acumulavam havia um complexo hoteleiro, um autêntico rancho de gado e uma construtora que fazia estábulos numa comunidade famosa entre os turistas, porque se encontrava junto do vale dos mustangs, os cavalos da América do Norte que andavam em liberdade.

Embora Jeff e a irmã fossem adotados, os Randell tratavam-nos como se fossem do seu sangue. Ele não tinha a mínima dúvida de que a família lhe arranjaria emprego na empresa, mas não queria a sua piedade.

– Sei que os meses anteriores foram muito difíceis para ti, filho – declarou o seu pai. – Demora o tempo que precisares. Volta a habituar-te a estar em casa.

Jeff continuava zangado com tudo e com todos, mas no rancho recebia tanto apoio que esquecia a sua raiva. Entretanto, ainda não estava preparado para falar do que lhe tinha acontecido. Já falara bastante depois do seu resgate, durante os meses de reabilitação, e não tinha servido de nada.

– Não te preocupes, estou bem – disse, forçando um sorriso. – Mas aproveitarei o teu comentário como desculpa para me livrar do trabalho. Sinceramente, limpar estábulos nunca me agradou muito.

O seu pai sorriu.

– Acho que temos gente de sobra para realizar essa tarefa. Apetece-te ir andar a cavalo com Hank e comigo?

Jeff ficou tenso. Não estava preparado para lidar com o clã dos Randell.

– Para onde?

Wyatt riu-se.

– Vamos ao leilão de um rancho – respondeu, observando o seu filho. – O rancho de Guthrie.

Jeff não conseguiu esconder a sua surpresa perante a menção do seu melhor amigo de infância, que falecera recentemente.

– Trevor tem problemas financeiros?

Na realidade, perguntara-o por perguntar. Sabia perfeitamente que Lacey Haynes Guthrie, a viúva de Trevor, não tinha a experiência nem os conhecimentos necessários para gerir o rancho sem ajuda.

Ao pensar em Lacey, estremeceu. Quando andavam a estudar, Lacey era a rapariga típica por quem todos os rapazes se apaixonavam, mas ela só tinha olhos para Trevor e nunca reparara nele. Nunca, exceto num dia muito concreto.

– Receio que sim – respondeu o seu pai.

– Porque não me disseram nada?

Wyatt suspirou.

– Em primeiro lugar, porque a tua recuperação era o mais importante para nós e, em segundo, porque só soubemos do leilão esta manhã. A crise económica está a deixar marcas e há muitos ranchos com problemas. Além disso, a doença de Trevor foi muito dispendiosa. Não sei, talvez devesses ter uma conversa com Lacey.

Durante anos, Jeff fizera o possível para não pensar nela. Por outro lado, tinha passado tanto tempo desde a sua época de estudantes, quando os três eram grandes amigos, que a ideia do seu pai o incomodou.

– Não saberia o que dizer. Nem sequer poderia explicar-lhe porque estive fora tanto tempo.

– Diz-lhe a verdade, filho. Diz-lhe que estiveste na guerra, que te feriram na perna, que tiveram de te operar várias vezes e que passaste muitos meses no hospital. Foi muito difícil para ti, Jeff. Não há nada do qual devas envergonhar-te.

Jeff fechou os olhos e tentou esquecer o pesadelo do ano anterior.

– Lacey não necessita que vá contar-lhe os meus problemas. Já lhe chegam os seus – argumentou. – Além disso, ainda não estou preparado para falar disso.

Wyatt assentiu.

– Bom, respeito a tua decisão. Era só uma ideia… Mas, de qualquer forma, devias acompanhar-nos –naquele momento, apareceu uma carrinha que estacionou junto da casa principal. – Olha, o teu avô já chegou – continuou Wyatt. – Conhecendo a tua mãe, deve ter preparado comida para um regimento e, se não fores tomar o pequeno-almoço, dar-me-á o teu e terei de fazer outro buraco no cinto.

– Está bem, poupar-te-ei à tortura de teres de comer duas fatias de bolo de mirtilo em vez de uma… – ironizou.

Jeff sorriu e sentiu-se melhor quando se dirigiram para a casa, embora Wyatt tivesse de andar mais devagar para não o deixar para trás. Sabia que o pequeno-almoço com Hank e os seus pais seria a parte fácil. A difícil chegaria depois, quando voltasse a ver Lacey e não soubesse o que fazer para a animar, nem como explicar o motivo da sua ausência no funeral de Trevor.

Nem ele mesmo se tinha perdoado.

A meio da manhã, Lacey Guthrie deixou os dois melhores cavalos do seu falecido marido nas mãos dos funcionários da empresa de leilões. Rebel Run e Fancy Girl, um garanhão preto e uma égua castanha, tinham sido o princípio do negócio de criação de Trevor. Se os vendesse, Lacey não poderia continuar com o negócio, mas, para sobreviver, tinha de os vender.

– De seguida, passamos aos números cento e sete e cento e oito do programa de hoje – declarou o leiloeiro. – Todos os que vivem na zona conhecem a origem destes dois animais magníficos, de modo que vos pouparei aos pormenores. Começaremos com as licitações por Rebel Run…

Contendo as lágrimas, Lacey entrou na cozinha, fechou a porta traseira e apoiou-se no vidro. Não se sentia com forças para assistir à venda dos dois cavalos. Representavam o seu último sonho com Trevor, um sonho pelo qual tinham lutado durante uma década e que já não se tornaria realidade. Nem sequer sabia o que aconteceria a Colin e a Emily.

– Oh, Trevor… – disse entre soluços, – porque tiveste de morrer?

– Mamã!

Ao ouvir a voz do seu filho que se aproximava, Lacey secou as lágrimas, sorriu e virou-se para o menino de oito anos.

– O que se passa, Colin?

– Não podes vender Rebel e Fancy – disse, com os punhos apertados. – São os cavalos do papá.

– Já falámos sobre isso, filho. Não tenho escolha.

Lacey inclinou-se para lhe afastar da testa uma madeixa de cabelo loiro, mas o menino afastou-se.

– Claro que tens! – insistiu. – Vai parar o leilão.

O papá não teria gostado que os vendesses.

Ela tentou falar com o menino, embora soubesse que não serviria de nada.

– O papá já não está connosco, querido, e eu tenho de fazer o que for necessário para seguirmos em frente.

Colin olhou para ela com um brilho de fúria nos seus olhos, de um tom azul tão intenso como o do seu falecido pai.

– Não amavas o papá. Se o amasses, não farias isto.

O menino abriu a porta traseira e saiu, fechando-a com força.

Lacey seguiu-o e saiu para o alpendre a tempo de ouvir as palavras do leiloeiro:

– Vendido ao senhor da última fila.

Lacey procurou o desconhecido com o olhar e reconheceu-o imediatamente. Era um homem alto, atlético e de ombros largos que não via há muitos anos. Um homem de olhos escuros e queixo quadrado, muito atraente, que teria reconhecido em qualquer lado e em qualquer situação.

Ele levantou-se da cadeira naquele momento e virou-se para a casa. Os seus olhares encontraram-se e ela sentiu uma mistura de desejo, nostalgia e aborrecimento, mas, antes que Lacey pudesse aproximar-se ou inclusive cumprimentá-lo, o homem continuou o seu caminho e afastou-se.

Pelo que parecia, o sargento Jeff Gentry tinha regressado a casa.

Jeff não conseguia acreditar. Não sabia o que ia fazer com a sua vida e acabava de comprar dois cavalos, mas não podia permitir que Lacey perdesse tudo, de modo que tinha oferecido a licitação mais alta.

Sabia que o rancho de Trevor era muito importante para ela e também sabia que o seu amigo trabalhara muito para ganhar uma reputação.

– Pode saber-se o que vais fazer com dois cavalos de criação? – perguntou-lhe o seu pai, que se tinha aproximado dele.

Jeff encolheu os ombros.

– Agora que o dizes, tens razão. Nem sequer sei onde metê-los.

Wyatt sorriu.

– Isso não é um problema. Podes levá-los para o nosso rancho ou para o do tio Chance. Ele tem instalações mais adequadas para aquele tipo de animais.

Hank Barrett dirigiu-se para eles, sorrindo. Com oitenta e cinco anos de idade, o avô de Jeff continuava saudável e ativo, desempenhando o seu papel de chefe da família Randell.

– Adquiriste um bom par de cavalos, Jeff – disse ao chegar. – Surpreende-me que Chance não tenha aparecido no leilão. Sempre gostou dos cavalos de Trevor.

Jeff voltou a olhar para a casa e ficou sem fôlego ao ver Lacey Guthrie, que continuava no alpendre.

Esbelta e alta, com quase um metro e oitenta de altura, tinha olhos verdes e cabelo cor de mel. Tinha adquirido peso desde os tempos em que estudavam juntos, mas a mudança era extraordinariamente sensual. A única mudança negativa era a da sua expressão, séria e preocupada, muito diferente da jovem que sorria o tempo todo.

– Não vais falar com Lacey? – perguntou o seu pai.

Jeff abanou a cabeça.

– Não, agora está ocupada – disse, desviando o olhar dela. – É melhor que vá pagar os cavalos e organizar a sua entrega.

Antes que o seu pai ou o seu avô pudessem insistir, Jeff afastou-se a coxear. Os cavalos de Trevor tinham-lhe saído muito caros, mas estava em dívida com o seu falecido amigo.

Jeff entrou no todo-o-terreno de Wyatt, seguiu por um caminho de terra e parou pouco depois, junto da cabana que fora o lar dos pais de Trevor. Saiu do veículo e avançou para a casa, enquanto contemplava o bosque e o rio que atravessava a propriedade dos Guthrie.

Era um lugar cheio de boas lembranças. Em crianças, Trevor e ele montavam os seus cavalos, iam para o rio e brincavam aos cobóis ou faziam corridas pelo campo para determinar quem era o mais rápido dos dois.

Jeff ganhava sempre porque era o mais atlético, mas Trevor ganhava em encanto e, é óbvio, também no que dizia respeito às mulheres. Não houvera nada de estranho em que tivesse sido ele a conquistar o coração de Lacey.

Ao chegar ao alpendre, observou que a cabana estava em perfeitas condições e que inclusive tinham mudado as dobradiças da porta. Rodou a maçaneta e entrou na casa, fracamente iluminada.

– Vejo que o fizeste, Trev – disse em voz baixa. – Cumpriste a tua palavra e arranjaste a cabana.

De repente, sentiu-se tão deprimido pela morte de Trevor que se emocionou e teve de respirar fundo várias vezes para se acalmar. Quando o conseguiu, olhou à sua volta.

Havia uma mesa e várias cadeiras contra uma das paredes, para além de um beliche no lado oposto da sala e uma salamandra. Ao aproximar-se da zona da cozinha, viu que o lava-loiça continuava a funcionar com a mesma bomba de água da sua juventude.

Tocou na bancada e passou os dedos sobre os nomes que estavam gravados na madeira: «Trevor Guthrie» e «Jeff Gentry». Dois nomes aos quais mais tarde se somara um terceiro, o de Lacey Haynes, e uma declaração: «Trevor ama Lacey».

Com o passar do tempo, Jeff fora-se distanciando do seu amigo. Não fora intencional. Com o aparecimento de Lacey, ele tornara-se o terceiro elemento e sentia-se sempre deslocado. Mas houvera um motivo ainda mais importante. Embora Jeff tivesse começado a sair com uma rapariga, os seus sentimentos por Lacey não tinham mudado. E ela estava apaixonada por Trevor.

Jeff tentou assimilar a nova situação. Ao fim de algum tempo, compreendera que não conseguiria. Alistara-se no Exército e anunciara-lhes que partiria alguns meses depois. Aquele fora o último verão que tinham passado juntos e foi um verão especialmente difícil para os três.

Cada vez que pensava no acontecido, estremecia. Um belo dia, fizera algo imperdoável: fora para a cama com Lacey e traíra a confiança de Trevor. Sentira-se tão culpado que partira imediatamente e tentara esquecê-lo. Poucas semanas depois, alguém lhe dissera que Trevor e ela iam casar-se.

Entretanto, tinham passado muitos anos e tinham acontecido muitas coisas, incluindo a morte de Trevor.

Ainda estava a pensar no assunto quando uma voz o sobressaltou.

– O que estás a fazer aqui?

Jeff virou-se tão depressa que esteve a ponto de perder o equilíbrio. Depois, apoiou-se na bancada e olhou para o menino que estava à entrada da cabana. Era o filho de Trevor e parecia zangado.

– Olá, sou Jeff Gentry… Costumava vir aqui em criança.

– Esta cabana é do meu pai. Vai-te embora.

Jeff assentiu.

– Eu sei. Eu conhecia o teu pai… Tu deves ser Colin.

O rapaz ignorou-o.

– O meu pai morreu.

– Eu sei e lamento imenso. Estive longe durante muitos anos.

Colin semicerrou os olhos.

– O papá disse-me que estavas no Exército, nas Forças Especiais. Disse-me que eras um herói.

Jeff sentiu uma pontada de dor.

– Não, não sou um herói. Só fiz o meu trabalho.

Os olhos azuis do menino, muito penetrantes, esquadrinharam-no.

– Se eras tão amigo do meu pai como dizes, porque nunca vinhas vê-lo? – perguntou.

– Eu estava fora do país, no estrangeiro. Gostaria de ter vindo, mas trabalhava para o Governo e não podia – Colin manteve-se em silêncio. – Entretanto, escrevíamo-nos de vez em quando – continuou Jeff, tentando justificar-se um pouco. – Só soube que estava gravemente doente quando morreu. Mas, agora, estou aqui, portanto, se puder ajudar-te em alguma coisa…

– Não necessito de tua ajuda. Já é demasiado tarde.

Os olhos do menino encheram-se de lágrimas, mas conteve-se e saiu a correr da cabana.

– Espera, Colin…

Jeff saiu à sua procura e parou ao ver que um jipe velho estacionava ao lado do todo-o-terreno de Wyatt. Era Lacey Guthrie.

Saiu do veículo e dedicou um olhar de recriminação ao seu filho, como se não estivesse muito contente com ele. Colin afastou-se em direção ao cavalo que pastava na erva e montou-o como um profissional, apesar de ter apenas oito anos. Depois, agarrou as rédeas e partiu.

Lacey fechou os olhos por um segundo e tentou tirar forças da fraqueza para enfrentar o homem que esperava à porta da cabana.

Durante os seus últimos dias de vida, Trevor não desejara outra coisa senão voltar a ver o seu melhor amigo, mas Jeff não aparecera. Lacey nunca lhe tinha perdoado. Fora tão doloroso para ela que, ao vê-lo agora, estava a ponto de chorar.

Respirou fundo e disse:

– Então, Gentry, voltaste para casa…

Jeff desceu do alpendre e caminhou para ela com dificuldade, a coxear.

– Voltei assim que pude.

Ela assentiu.

– Os teus pais explicaram-me que estavas fora do país.

Jeff inclinou a cabeça e olhou para ela nos olhos com carinho. Lacey pensou que continuava tão bonito como sempre.

– Teria dado qualquer coisa, o que fosse, para poder estar aqui – declarou ele. – Quero que o saibas, Lacey.

– Eu sei, mas isso não significa que tenha gostado da tua artimanha desta manhã – afirmou.

– A minha artimanha?

– Sim, a tua artimanha. Pelo menos, podias ter-me avisado antes. Nem sequer sabia que estavas de volta.

– Tens razão – admitiu. – Devia ter-te avisado.

– Olha, Jeff… Não necessito que me ajudes. Não necessito que apareças de repente e que me salves.

– Quem disse que quero salvar-te?

Ela cruzou os braços.

– És um soldado, Jeff. Primeiro-sargento, se não estou enganada. Para que quer um soldado dois cavalos de criação?

– Já não estou no Exército. Agora, sou um civil –explicou.

Lacey olhou para ele com desconfiança.

– Não acredito.

Ele desviou o olhar, mas não antes de ela ver um fundo de tristeza na sua expressão.

– Pois, acredita. Dediquei muito tempo e energia ao Exército. Necessito de uma mudança na minha vida.

Lacey reparou na sua tensão e pensou que a guerra o mudara.

– Trevor teria gostado que tivesses vindo vê-lo –disse.

Jeff hesitou antes de dizer:

– Eu também teria gostado, Lace.

Lacey incomodou-se um pouco ao ouvir que lhe chamava Lace, como faziam os seus entes mais queridos, mas não disse nada.

– Sim, eu sei que…

– Trevor sabia que eu tinha um trabalho para fazer – interrompeu-a.

Ela deu meia volta e afastou-se para o jipe, sentindo uma dor tão intensa como se tivesse perdido Trevor outra vez.