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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Dixie Browning

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A cinderela sedutora, n.º 500 - janeiro 2019

Título original: Beckett’s Cinderella

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-602-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Mesmo antes de aterrar no aeroporto internacional de Norfolk, Lancelot Beckett abriu a sua mala, tirou uma folha de papel e examinou uma árvore genealógica. No início, só tinham um nome, um lugar e uma data de nascimento aproximada. Mas, depois de várias gerações, o trabalho ia realizar-se.

– Como é possível encontrar os descendentes de um vaqueiro de Oklahoma nascido há cento e cinquenta anos? – perguntou, da última vez que viu o seu primo Carson na sua casa nos arredores de Charleston. – Não me dou mal à procura de piratas, mas vaqueiros? Não me gozes, Car.

– Se não puderes fazer isso hoje, eu assumo o teu lugar – disse Carson, detective da polícia, ao olhar para a sua escala. De vez em quando, até a sorte dos Beckett falhava, como aconteceu com Carson há dois meses atrás. – Podes fazê-lo a caminho de casa, não precisas de te desviar.

– Sabes onde é que estava quando a mãe me encontrou? Em Dublin! – queixou-se Beckett. Os dois apelidavam-se Beckett, mas Lancelot tinha deixado claro que nome utilizaria quando completara os onze anos. Desde então, todos o chamavam pelo seu apelido. – Tive de cancelar algumas reuniões em Londres e um encontro romântico. Não pensava voltar a casa nesta altura.

Não tinha razão para voltar: o seu lar era uma casa com escritório e habitação por cima, em Wilmington, Delaware. Servia para receber o correio e descansar um pouco quando estava nos Estados Unidos. Era uma coincidência que, o lugar onde supostamente se escondia a senhora Chandler, se situasse entre Wilmington e a casa dos pais de Beckett, em Charleston.

Decidiu que esconder-se era um equívoco; tinha-se mudado. Quaisquer que fossem as suas razões para estar na Carolina do Norte, em vez de no Texas, foi muito difícil localizá-la. Aproveitaram a utilização dos computadores da polícia, algumas fontes não oficiais e um especialista em genealogia.

Ainda assim, tinha sido através de uma identificação casual que se descobriu o negócio denominado «Grant: produtos da terra; água fria grátis», numa península perto de Berta, na Carolina do Norte. Nem sequer tinha uma direcção, só sabia que se situava na via rápida.

Beckett tentou dominar a sua impaciência. Estava acostumado à acção, enquanto o seu sócio se ocupava dos papéis no escritório, mas tratava-se de um assunto familiar que não podia adiar. Já há muito tempo que estava pendente.

Tinha decidido dedicar duas horas e meia para encontrar o sítio e esclarecer o assunto. Depois, voltaria a Charleston e diria a PauPau que estava solucionado. Qualquer obrigação que a sua família tivesse com Oiza Chandler Edwards, descendente directa do velho Elias Matthew Chandler de Crow Fly, ficaria resolvida.

O especialista em genealogia tinha feito um grande trabalho, mas só tinha chegado até ao casamento da menina Chandler com James G. Edwards, falecido a 7 de Setembro de 2001. Uma investigação policial tinha demonstrado que a senhora e o seu esposo tinham estado envolvidos numa burla financeira de altos voos, uns anos antes. Edwards pagou caro a sua culpa. Uma das suas vítimas matou-o com um tiro enquanto corria, mas, antes de morrer, declarou a sua esposa inocente. Ela nunca esteve relacionada directamente com actividades ilegais. Depois de tudo, ela vendeu os seus bens e desapareceu de Dallas.

Beckett não sabia se era culpada ou inocente, nem se importava com isso. Actuava pelo bem de PauPau e não dela.

No fim, tudo tinha sido pura sorte. Um repórter, com excelente memória visual, parou num posto de combustível na Carolina do Norte e chamou pelo Carson.

– Não estavas à procura dessa Edwards que esteve envolvida na burla de pensionistas que fizeram no Texas?

Encontraram-na. Estava num apartamento, a viver com um tio-avô materno chamado Frederick Grant. Beckett tinha desejado passar a tarefa à geração seguinte, como tinham feito os homens da sua família desde que, segundo diziam, o seu bisavô tinha enganado o seu sócio, um tal Chandler.

Mas, nesse momento, não havia outra geração. Carson não temia uma companhia e o desejo de Beckett de criar uma família deixava-o receoso de tentar de novo, ainda que preferisse dizer que estava demasiado ocupado.

– Dinheiro, a raiz de todos os males – murmurou Beckett, ao falar com o seu primo Carson, essa manhã.

– Achas? Pergunto-me de que lado da lei estaria o velho Lance se vivesse actualmente – replicou Carson.

– É difícil dizer. A mãe encontrou alguns papéis, mas estavam estragados; molharam-se durante o furacão Hugo – Beckett tinha sugerido à sua mãe que guardasse os documentos valiosos no cofre de um banco em vez de os guardar no sótão, cheio de infiltrações.

– Não, é como se fossem fotografias familiares – tinha respondido ela. – E, como é que podia adivinhar que se iam estragar? Deixa de choramingar e prova a sopa. Se não gostas da manteiga, podemos fazer creme de caranguejo da avó com margarina.

– Mãe, tenho quase quarenta anos, por favor. Posso, de vez em quando, comentar algumas dificuldades, mas nunca choramingo. Um pouco mais de sal e um pouco mais de licor?

– Também acho; conheço-te muito bem. Não há dúvida: cada vez tens mais cabelos brancos.

Segundo o pai de Beckett, o cabelo da sua esposa ficou branco ainda em adolescente. Todas as raparigas da escola a invejavam. «Uma coisa é ter brancas quando se é suficientemente jovem para que pareça moderno. Outra coisa é tê-las quando és tão velho que ninguém lhes dá importância», era uma das frases típicas da sua mãe. Durante os últimos quinze anos, o seu cabelo tinha passado por todos os tons de loiro e ruivo imagináveis. Com quase sessenta anos, aparentava quarenta e cinco no máximo.

– Claro, saberás como arranjá-lo – disse, enquanto provava outra colherada da sua sopa, que incluía gambas, caranguejos e natas suficientes para obstruir as artérias de uma cidade inteira. – PauPau fez o que pôde para encontrar essa gente, mas ficou doente.

O avô de Beckett, a quem tanto a família como amigos chamavam PauPau, era encantador, mas, com mais de cem anos, continuava a complicar as coisas. Ele até enganava o diabo; quando se tratava de passar o testemunho a outro, os Beckett não tinham quem lhes chegasse aos calcanhares. Por essa razão, quatro gerações depois do «crime», Beckett estava a tentar solucioná-lo de uma vez por todas.

– O que é que sabes dos temporais que ameaçam os trópicos? Ouviste alguma coisa esta manhã? – perguntou Carson.

– Parece que estabilizaram. Espero que não piorem, porque tenho meia dezena de barcos em alto mar a experimentar o novo dispositivo de rastreio. Se todos se posicionarem para evitar furacões, vou estar muito ocupado a tentar descobrir se atinge algum.

– Bem, descansa um pouco.

– Para ti é fácil de dizer.

Quando a sua mãe o contactou para lhe dizer que PauPau tinha tido outro ataque, Beckett estava a negociar com os donos de um barco de transporte irlandês. Este tinha sofrido tantos roubos que se viram obrigados a pôr-se em contacto com a sua empresa, a Controlo de Riscos Marinhos.

– Foi um ataque leve, mas quer ver os dois – disse a mãe.

Beckett voltou a casa e, como Carson estava de baixa, aceitou o encargo. Por isso, estava à procura da evasiva mulher que tinha sido vista pela última vez a vender verduras a noroeste da Carolina do Norte.

– PauPau, depois vamos ter de falar – disse Beckett. Adorava o avô e, mesmo não o vendo com frequência, pensava mudar a situação, caso ele se recuperasse. Apercebeu-se que a família era muito importante, imprescindível para tornear um temporal. Assim, pensava regressar a casa. Tinha registado a sua empresa em Delaware, porque as leis eram mais favoráveis, mas não existia outro motivo para ficar ali.

Parou num semáforo e bocejou; procurava uma direcção. Tinha alugado um jipe, para o caso de a investigação o levar mais além da auto-estrada que ligava a Virgínia ao extremo da Carolina do Norte. Achava que não ia ser necessário, mas gostava de ser prudente.

 

 

– Não nos deixaram passas de ameixa – lamentou-se uma voz, vinda da parte traseira da casa.

– Vejam na despensa – respondeu Liza. – Mudaram-lhes o nome, agora chamam-se ameixas secas, mas são a mesma coisa – sorriu enquanto abotoava o avental sobre a camisa e as calças de linho. O tio Fred, na realidade seu tio-avô, tinha a mente muito lúcida aos oitenta e seis anos, mas não gostava que as coisas mudassem.

E, inevitavelmente, mudavam. No seu caso, foi uma mudança para melhor. Olhou para a casa acolhedora, mas um pouco em ruínas, com móveis comprados pelo correio e tapetes de croché. Tinha uma mesa com revistas de agricultura e de desporto. Uma das janelas possuía um aparelho de ar condicionado que ocultava a escassa vista da paisagem, que despontava num dos lados. Mas servia até que pudessem ter ar condicionado centralizado, depois de mudar o chão da cozinha e arranjar o telhado. Nos quartos, tinham ventiladores e foi isso que fez com que o húmido mês de Agosto se suportasse.

Liza não tinha mudado nada desde que chegou, excepto a limpeza das paredes, do chão e das janelas; lavou também todos os cobertores e mudou os cortinados que se tinham estragado.

Pouco depois da sua chegada, Liza, esgotada, chorou pela primeira vez em meses. Estava a limpar as estantes de um armário quando encontrou, numa caixa de sapatos, um molho de cartas e cartões de Natal, incluindo aqueles que enviara ao tio Fred. Liza e a sua mãe preparavam sempre o postal juntas; ela escolhia o cartão e a mãe escrevia a mensagem. Quando a sua mãe morreu, Liza continuou a enviar um postal todos os anos, mesmo não sabendo se o recebia ou não. O solitário tio Fred era adorável. Liza arriscou muito ao aparecer em sua casa sem avisar. Não sabia nada dele, excepto que era o seu único parente vivo, para além de uma prima que não via há anos. Tinha cruzado o país para visitá-lo uns dias, na esperança de poder ficar até se recuperar e planear o seu futuro.

Descobriu que os dois necessitavam de alguém, ainda que não o tivessem dito. «Não há passas de ameixa» era uma das formas do tio Fred dizer que precisava dela. Outra era «os malditos óculos nunca estão onde os deixo».

Ali, a vida carecia das diversões que conhecia, mas trocou com gosto os jacuzzis e os clubes pela tranquilidade previsível que a rodeava.

Sobretudo, gostava de saber de onde saía cada centavo e em que se gastava. Uma vez tinha sido negligente, até a um extremo criminal, segundo alguns, mas depois dessa lição converteu-se numa fanática que apontava absolutamente tudo. As suas contas estavam perfeitamente ordenadas.

Quando chegou, em Maio do ano anterior, o tio Fred apenas tinha o necessário para as despesas e dependia de amigos e vizinhos, que lhe davam os produtos que sobravam. De vez em quando, se aparecia alguém, comprava algumas verduras e deixava o dinheiro numa conta. Recebiam o troco e Liza duvidava que ele verificasse se o tinham enganado. O certo é que não poderia fazer nada, a não ser ameaçá-los com a bengala.

Pouco a pouco, quando a sua visita se prolongou durante semanas e, depois, meses, foi fazendo algumas mudanças. Ao fim de um ano, era claro que ficava, sem terem falado nisso. Precisavam um do outro e ela sentia-se útil, o que favorecia muito a sua auto-estima, que tinha sido profundamente danificada.

O tio Fred insistia em estar presente todos os dias, ainda que mal se levantasse da cadeira de baloiço. Ela animava-o, porque era bom que se socializasse. Todos os seus amigos já estavam em lares ou a viver longe, com parentes.

Quando se falou acerca disso, ela disse que o seu caso era ao contrário: a parente tinha ido viver com ele. O tio Fred riu-se. Tinha um riso agradável, toda a sua cara se enrugava e os seus olhos desapareciam entre as rugas, debaixo das grossas sobrancelhas brancas.

A maioria das pessoas que parava para beber água gelada, oferecida gratuitamente, olhava para as verduras. O motivo não sabia: ou porque estavam de férias ou porque o tio Fred conseguia meter conversa com qualquer um. Sentado na sua velha cadeira de baloiço verde, com um colete de vaqueiro, sapatilhas, um gorro de basebol dos Braves e a bengala escondida atrás do frigorífico, recebia toda a gente com um grande sorriso, perguntando de onde eram.

De vez em quando, depois de fechar o posto, levava-o a Bay View, que visitava com os seus amigos, enquanto ela fazia as compras. Normalmente, quando ia buscá-lo, resmungava contra os organizadores.

– É a única coisa de que falam, esses organizadores. Uma partida de basebol fantástica na televisão e só querem falar do que acontece numa espécie de rede. Um regresso à infância, na minha opinião.

Por isso, não tinham ido muito ultimamente. O tio Fred parecia contente em casa e isso encantava-a.

Abrindo o porta-moedas, Liza pensou que nunca seriam ricos. Mas não procurava riqueza, só queria escapar do caos em que se tinha convertido a sua vida. A única coisa que pedia era vender o suficiente para manter o negócio, mais pelo tio Fred do que por si própria. Ela podia encontrar um trabalho; os jornais estavam cheios de ofertas esse Verão. Mas Fred Grant necessitava dela e nunca esqueceria como a recebeu naquele dia de Maio em que apareceu à sua porta.

– És a filha de Salina, dizes? Vens do Texas? Deus te abençoe, minha jovem, pareces-te com a família, sem dúvida. Deixa a mala no quarto da frente, porque tem um colchão novo.

O colchão podia ter sido novo muitos anos antes, mas isso não o tornava mais cómodo. Mas era igual. Orgulhava-se de saber como se ganhava a vida. Passo a passo, mas cada passo direito, documentado e escrupulosamente honrado.

– Estarei lá fora, se precisares – disse. Fred Grant tinha o seu orgulho. Não demorava cinco minutos a percorrer o desnivelado caminho de pedras da casa ao negócio que tinha montado quarenta anos antes, quando se aleijou nas costas e não pôde continuar a trabalhar no rancho.

A esposa e ele tinham vendido a terra e só restou a casa e um terreno mínimo. Fred admitiu que gastou o dinheiro numa viagem de férias a Nashville e num casaco de peles para a esposa, com o qual foi enterrada uns anos depois. Agora, Liza e ele só se tinham um ao outro.

Pouco a pouco, Liza adaptou-se a esta vida tranquila, tão diferente da vida elegante e acelerada que James tinha gostado. À custa vender praticamente todos os seus bens, arte, jóias e roupa caríssima, que nunca voltaria a usar, tinha conseguido pagar a algumas das vítimas de James e aos seus advogados. Tinha deixado à sua assistente, Patty Ann Garret, um pote de porcelana Waterford que sempre tinha admirado. Gostava de lhe ter dado mais coisas, mas a sua honra exigia que devolvesse tudo o que pudesse do que James tinha roubado.

Além disso, a sua roupa nunca serviria a Patty Ann, que media um metro e sessenta e quatro, mas tinha muito peito. Liza, pelo contrário, era alta, magra e quase plana. James sempre disse que o seu corpo tinha classe, o que lhe agradava muito. Para uma mulher com um curso universitário, tinha sido muito ignorante. Pouco a pouco, aprendeu a cuidar de si e de uma pessoa ainda mais necessitada.

– Bom dia. Sim, são cultivados aqui, no condado de Currituck – dizia estas palavras umas cem vezes num dia bom. As estimativas turísticas afirmavam que num sábado de Verão passavam por ali umas 45.000 pessoas. A gente que ia à praia ou regressava dela, só parava em mercados maiores, mas o tio Fred tinha clientes regulares, alguns dos quais tinham estado ali pela primeira vez quando eram pequenos.

-se, sem conseguir. O que mais se aproximava era um estilo sereno culto. A mulher media cerca de um metro e setenta e cinco e tinha uma estrutura óssea digna de uma modelo internacional. Beckett era um entendido em mulheres, tinha admirado muitas. Se realmente era a mulher que tanto lhe tinha custado a encontrar, continuava sem entender o que fazia ali a vender alimentos.

– Senhora Edwards? – perguntou, depois de cumprimentar com a cabeça o velhote.

Liza sentiu que se lhe abria um buraco no peito. Tentou recuperar a respiração, sem deixar de olhá-lo. Não o reconhecia, mas algo nele lhe chamava a atenção. Os seus olhos, as suas mãos, também a sua voz. Supunha que, se o tivesse visto antes, o reconheceria.

– Receio que esteja equivocado.

– Não é Liza Chandler Edwards?

O tio Fred franziu o sobrolho e procurou a bengala atrás do frigorífico. Liza pensou, horrorizada, que se tencionasse protegê-la teriam problemas. Contou-lhe parte de seu passado quando chegou, mas não mencionou as recentes chamadas telefónicas que desligavam quando atendia, nem a carta que tinha recebido.

– Parece que joga com vantagem – murmurou, tentando ganhar tempo. Perguntou-se como podia saber quem era. Legalmente, voltara a chamar-se Liza Jackson Chandler, para erradicar os últimos restos de seu desastroso casamento.

– Posso tomar um copo dessa água gelada gratuita que anunciam?

– Claro. Ali – disse Liza, indicando os copos de plástico e tentando manter a compostura. Apesar da humidade e da temperatura já ter alcançado os 35 graus, o homem parecia fresco como uma alface. Não tinha nem uma gota de suor na testa alta e bronzeada.

O movimento que a cabeça fez para trás para dar um gole foi seguido atentamente por ela. Estava segura de que o seu bom físico não se devia ao ginásio e de que o seu bronzeado também não era dos que se conseguem com uma semana de praia. O contraste entre a pele bronzeada, o cabelo grisalho, os olhos cinzentos gelados e as sobrancelhas negras era assombroso e muito atractivo. A palavra «sexy» passou-lhe pela cabeça, mas afastou-a imediatamente. A coisa de que menos necessitava nesse momento era de sexo. Tinha de se livrar desse homem.

Mas antes tinha de descobrir se era quem a perseguia, ao menos figurativamente, telefonando à meia-noite e desligando. No mês anterior tinha encontrado uma carta em seu nome na caixa de correio do tio Fred. A direcção do remetente era um apartado dos correios do sul de Dallas. Dentro tinha uma folha de papel em branco.

– Creio que não respondeu à minha pergunta – insistiu ele com voz grave, ligeiramente áspera, mas não ameaçadora.

– Antes gostaria de saber quem pergunta.

– Beckett, L. Jones Beckett.

– Isso não explica o motivo de estar aqui a fazer perguntas, senhor Beckett. Se é que se chama assim.

– O nome não lhe diz nada?

Liza deu a volta, tentando recordar se alguma das vítimas de James se chamava Beckett. Tinham sido tantas que não sabia. E não tinha podido responder a todas.

– Não, sinto muito. Deveria fazê-lo? – replicou, ao ver que o homem esperava uma resposta.

– O meu avô era Lancelot Elias Beckett.

– Sinto muito por ele – replicou Liza, com os braços cruzados sobre o peito. O tio Fred, bendito seja, tinha deixado de se movimentar e já não sorria. Tinha a bengala à mão, sobre os joelhos.